quinta-feira, 25 de abril de 2013

Meu nome não é Feliciano !


Uma reflexão sobre o fundamentalismo religioso brasileiro, revelado pelas mídias e redes sociais.




                   Quem tinha a ilusão de que o preconceito e o fundamentalismo religioso tinham esfriado em solo Brasileiro pode ter que rever seus conceitos, pois comportamento em grupos tem revelado o aumento da perseguição aos evangélicos, mesmo de forma velada.

                    Há umas duas ou três décadas, ser evangélico não era moda. O Brasil possuía minoria evangélica e carregar uma bíblia na mão, era a certeza absoluta de que iria ser chamado de forma pejorativa de “Crente” ou de “Bíblia”. O membro de uma igreja evangélica era conhecido por sua postura ética, espiritual e moral. Não éramos perfeitos, pois perfeição só no céu, mas havia uma sensível diferença entre “ser ou não ser” evangélico. Naqueles tempos, a igreja séria ainda disciplinava seus membros que deixavam o testemunho cristão à desejar. Ouvir um rock gospel era inadmissível...

                   O tempo passou, a igreja oriunda basicamente da reforma protestante, a mesma que condenava a mistura da Igreja católica com o Estado e a venda da indulgência, provou do mesmo veneno. Aquilo que tanto condenamos, passamos a ver ocorrendo dentro de nossos próprios templos.

                   A péssima interpretação de II Cor. 3:6 (“Ele nos capacitou para sermos ministros de uma nova aliança, não da letra, mas do Espírito; pois a letra mata, mas o Espírito vivifica.”) “justificou” a proliferação de pastores sem formação pelos quatro cantos do Brasil. E sendo a Bíblia, um livro composto de 66 livros escritos em estilos diferentes, a ausência da formação teológica básica atropelou mortalmente a exegese, a hermenêutica e a contextualização, desembocando em uma homília cheia de más interpretações, doutrinas bizarras e uma forte ausência da pregação sobre ética cristã. Por fim, surgiram pregadores da prosperidade, aproveitando-se da característica mística do povo brasileiro, a qual já era fortemente explorada pelo catolicismo, espiritismo e feitiçaria.

                   Culto da Rosa vermelha, culto do descarrego, unção de objetos, uso do Sal grosso, regressão, entre outros absurdos, começaram a serem inseridos no estilo simples do evangelho que sempre foi: “Ore ao Pai, em nome de Jesus, Amém!”

                Nós que somos contra a venda do perdão dos pecados, nos deparamos com a “venda de curas e bênçãos”. Nós que focamos o evangelho espiritual e voltado para a Salvação, presenciamos o evangelho materializado e voltado para as bênçãos materiais. Nós que entendemos a mensagem de Jesus, na qual o “ser” é mais importante do que o “ter”, acompanhamos a deturpação deste princípio, aonde que não tem torna-se coisa nenhuma diante dos homens.

                Paralelo à Crise teológica, veio a Crise de Integridade. Líderes de todos os seguimentos religiosos envolvidos em escândalos dos mais diversos, os políticos eleitos sob a bandeira de defender o direito dos evangélicos (como se isto fosse algo para ser militado na carne) defendendo seus próprios interesses. A Igreja que criticou a mistura de Igreja e Estado feita pela Igreja Católica, acabou por cometer o mesmo mal. Não é raro ouvir alguém dizer: “Eu quero Cristo, mas não quero saber da Igreja!”

                  Com o tempo, ser evangélico virou ser “gospel”. Virou moda... a medida que o censo vai mostrando o crescimento do percentual de evangélicos, o modismo cresce. Hoje é moda ser Gospel. Os grandes perseguidores, críticos, difamadores e caçoadores do evangelho, quando perceberam o crescimento desta massa, descobriram que estavam perdendo dinheiro e resolveram “minimizar” ou “velar” a perseguição “branca”.

                  O pior de tudo isto, é a outra Crise, a Crise de Identidade. Apesar de ser algo visível, e biblicamente reprovável (Não vos prendais ao mesmo jugo com os infiéis. Que união pode haver entre a justiça e a iniqüidade? Ou que comunidade entre a luz e as trevas? Não vos prendais a um jugo desigual com os infiéis; porque, que sociedade tem a justiça com a injustiça? E que comunhão tem a luz com as trevas? Que compatibilidade pode haver entre Cristo e Belial? Ou que acordo entre o fiel e o infiel? E que concórdia há entre Cristo e Belial? Ou que parte tem o fiel com o infiel? 2 Cor.6:14-16), o afã pelo estrelismo, fez uma parcela achar que isto era uma conquista da “terra prometida”, e que tais meios de comunicação estavam se “convertendo”. Ledo engano !
 
A Mistura do Santo com o Profano: Louvor de Branco
e a sensualidade juntos no Caldeirão
 

                   As leis, outrora duras contra o racismo e preconceitos, agora praticamente se tornam relativas. Se um evangélico disser o que a Bíblia diz sobre determinado assunto, então a lei vale para ele. Mas, se qualquer um quiser falar mal da Igreja ou de um líder, com base no exemplo de outro, então é permissível. Falar mal do evangelho, da Igreja e de Pastores pode. Falar sobre a crise católica, por exemplo, não pode !

               Escondidos atrás de “nicknames” ou até mesmo de forma aberta, internautas tem demonstrado toda a habilidade em erros de interpretação de leitura, e aproveitado para atacar qualquer um que faça uma declaração ética, moral e doutrinária através de um meio de comunicação. Chamo isto de censura religiosa ou inquisição digital (tanto faz, o princípio é o mesmo – você pode falar o que quiser da minha fé, mas eu não posso falar das verdades bíblicas sobre questões espirituais).

                Este “coquetel molotov” espiritual já estava bem explosivo, quando surgiram no cenário dois pastores: Silas Malafaia e Marcos Feliciano.

                O que muita gente não entende, é que o mais esperado de um líder religioso é que ele seja menos “politicamente correto” e mais biblicamente correto. Dentro desta proposta, Silas Malafaia tem defendido a Igreja dos ataques de grupos que declaram que os evangélicos são isto e aquilo. Não há sequer um só caso registrado de um evangélico que tenha assassinado, agredido ou violentado um só ser um humano de opção religiosa ou sexual diferente da orientada pela Bíblia!

                Do outro lado, está o Feliciano. Um pastor eleito como político, que abusou do mau uso das ciências de interpretação das escrituras. 

               Com a força das redes sociais, toda esta questão de quem está certo ou errado sobre a polêmica do Casamento Gay, acabou revelando o que há no coração dos internautas. A Bíblia diz que a “Boca fala do que o coração está cheio”, então por dedução, as mãos digitam o que está na mente das pessoas. Assim, o que temos visto é que o preconceito vai muito além de questões sexuais e raciais, pois atinge fortemente a vida religiosa. Os que utopicamente sonhavam que o preconceito religioso havia acabado, com o surgimento de tanta popularidade gospel (Festival Promessas, entre outros...) em eventos e shows com foco de lucro e marketing, precisam rever seus conceitos !

                Em um artigo anterior, havia escrito sobre o Tema “Inquisição Digital”, uma alusão à censura sobre expressões de opinião baseadas em questões ligadas à fé, ética e moralidade. Enquanto palavrões poluem as músicas, a depravação campeia nos meios de comunicação e as ruas, basta alguém ir “contra esta maré” para ser alvo de chacota.

                Como Pastor Batista, a impressão que eu tenho, é de que muitos gostariam de falar besteiras e ofender o Deputado Feliciano. Como não podem, acabam fazendo transferência psicológica com o primeiro crente que aparece pela frente, especialmente se for um pastor. Isto é o sintoma da síndrome da permissividade.

              Eu repudio este tipo de postura, mesmo porque meu nome não é Feliciano. Se ele falou algo que não convinha, não é outro pastor que precisa “pagar o pato”. Assim como na Bíblia a responsabilidade pessoal é intransferível , eu sou responsável pelo que eu penso, escrevo ou falo. Mas pelo o que  EU PENSO!

              Pessoas que alegam inteligência superior aos evangélicos (como se inteligência fosse questão de fé), cometem erros grotescos de interpretação textual, contextual, histórica e teológica. Podem até ser mais inteligentes, porém visivelmente menos sábios!           

             Paulo disse que não podemos nos conformar com este Mundo, e para sobrevivermos no ambiente virtual temos que nos posicionar, não admitindo a censura de nossas expressões de vida espiritual.  Estamos diante de um novo paradigma de testemunho cristão. Ou vamos influenciar ou vamos ser influenciados.
 
             Meu nome não é Feliciano, porém pelo menos ele desceu do muro. Expressa sua opinião e defende o que acredita. E você? Vive das opiniões alheias ou de suas próprias?